Deusa Ceuci e Jurupari
Artista: Vinicius Galhardo |
Artista: Vinicius Galhardo |
Deusa Ceuci e Jurupari
POR ROSANE VOLPATO
Ceuci é a “Virgem Maria” da teogonia Tupi, pois também ela teve um filho de uma concepção
miraculosa.
Segundo a lenda, Ceuci descansava à sombra da árvore do bem e do mal, quando avistou seus
frutos grandes e maduros. Não resistindo, apanhou e comeu uma de suas frutas e o seu caldo
escorrendo pelo seu corpo nu alcançou o meio de suas coxas.
Meses após, revelou-se uma gravidez que encheu de indignação toda a comunidade de sua aldeia.
O Conselho de Velhos, achou por bem, puni-la com o desterro.
Ceuci teve seu filho muito longe da aldeia de deu-lhe o nome de Jurupari, futuro legislador, que
veio mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher
perfeita com quem o sol pudesse casar.
À medida que o menino cresceu foi afastando-se da mãe e muito jovem já era considerado o
“Moisés” dos tupis. Para que os homens aprendessem a viver independentes das mulheres, Jurupari
instituiu grandes festas que só eles podiam tomar parte.
“Morreste mãe, porque desobedeceste à lei de Tupã. É a lei que eu vivo a ensinar. Não vou te
ressuscitar, mas te recomendo: sobe, bela, radiante e pura para um mundo melhor. Cumpriste a
verdadeira missão de mãe, que sempre é cheia de amor, renúncia, desenganos e sofrimento. Meu pai
vai recebê-la de braços abertos lá no céu”.
O corpo da deusa, então, cheio de luminosidade, começou a
subir.
Atravessou o espaço e transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Plêiades
(constelação que indica a época certa da colheita das frutas maduras, da caça e da pesca).
Ali está, até
hoje, para lembrar aos selvagens o respeito às leis de Juru pari, o Filho do Sol.
Os mitos da procriação, do nascimento e da vida de grandes figuras da história refletem o que há
de extraordinário nestas crianças divinas e além disso, nos falam da correspondência destas conexões
que se dão tanto com a ordem cósmica como com a alma humana.
As relações “homem-Deus” e “homem-mulher” são os temas do ser humano desde que ele existe,
justamente por que nestas ligações entrelaçam-se decisões de vida ou morte. De todas as ligações a de
mãe-filho é a mais estreita, é algo transcendente, que une duas pessoas em um segredo fascinante, que
dá prazer e dor, mas que no fundo é sempre indecifrável.
Assim, não é de se estranhar que nos
primórdios dos tempos se acreditasse que a maternidade não dependia do homem, mas sim da influência ou interferência dos astros, animais e até do sumo de alguns frutos, como é o caso de nossa
lenda.
No início da humanidade, tal estado das coisas acabou por gerar choques e tensões sociais e o
homem sentindo-se mais forte, tratou de dominar a situação e inverter os papéis. Esta mudança em
alguns casos foi extremamente dramática, pois em algumas tribos, o homem figurava como uma espécie
de escravo da mulher, executando os serviços mais baixos e sem que os filhos o considerassem pais.
O mito do Jurupari, juntamente com a existência das Icamiabas, nos deixa bem claro, que as
mulheres foram destituídas de todo o poder, nada restando-lhes, nem mesmo era reconhecida a
maternidade. Como o desmoronamento do direito materno, o homem apoderou-se também da direção
da casa, a mulher viu-se então degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem,
ou simples instrumento de reprodução.
É óbvio que as mulheres não poderiam concordar com tal estado das coisas. E muitas são as lendas
em que as mulheres matam os homens, seus maridos, os velhos e as crianças do sexo masculino, antes
de abandonarem suas aldeias.
QUEM É JURUPARI?
Jurupari ou Izí é um Grande Espírito, que servia de guia e protegia os índios, particularmente aos
homens. As leis do Jurupari, que significa “boca fechada” (iurú=oca e pari=pume), impunham silêncio
total sobre todos os segredos do oculto. O pai deveria matar o filho, se este descobrisse qualquer
segredo das festas sagradas antes de iniciado, tão rígidas eram tais regras.
Nas cerimônias de iniciação, destacam-se os seguintes versos, ilustrando o conceito de “boca
fechada”:
“Sol, faz valentes seus corações!
Lua adoça suas falas!
Ceuci ensina-os a fugir
De um dia tudo contar!”
A cantiga pede pois, que mantenham suas bocas fechadas, de acordo com as leis e não esquece de
invocar a proteção das Sete Estrelas ou Ceuci, a mãe do Jurupari, que correspondem ao aglomerado
estelar aberto das Plêiades, na constelação do Touro, próximo às “Três Marias”, o cinturão da
constelação do Órion.
Este grupo é visível alto no céu pela madrugada no inverno e primavera e verão
no meio da noite. É também pedido a proteção da Lua para “adoçar suas falas”, isto é, impedi-los de
contar os segredos às mulheres.
O Jurupari foi portanto, o responsável pela instituição da “Casa dos Homens” e também pelo
invento dos instrumentos sagrados, máscaras e das festividades exclusivamente masculinas, o que servia
para manter o caráter de dominação patriarcal no seio das tribos.
MENSAGEM DEIXADA
A Deusa Ceuci e Jurupari chegam até nós para curar os conflitos entre homens e mulheres. Ceuci
é a Deusa-Mãe Divina e Jurupari a Criança Solar que recebeu sua energia amorosa. Sem a mãe, não
existiria o filho, sem o filho não existiria a mãe e, sem os dois, não poderíamos viver a dimensão da
vida.
Nossas vidas sempre continuarão sendo um grande mistério, onde a razão só quer saber das causas
e consequências e, com certeza, jamais admitirá ou acreditará no nascimento proveniente de uma
mulher virgem. Entretanto, toda a mulher que encontra-se conectada com a Grande Mãe, sabe que não
depende nem do pai, nem da mãe quando se forma a vida, mas isso cabe a um poder superior, ao poder
da própria vida.
Ceuci vem dizer ainda, que é urgente o aprofundamento das mulheres dentro de si mesmas, para
que se realizem os valores básicos femininos que o mundo patriarcal negou e que a mulher também
alienou de si mesma, perdendo a sua linguagem própria de signos e símbolos em busca do reconhecimento.
O mundo hoje já não impede o desenvolvimento da mulher, mas ela ainda se encontra muito
confusa em relação a própria identidade e do seu verdadeiro papel na vida.
Se sente presa e vacilante
aos preconceitos que a marcaram como sexo frágil, incapaz e inferior. Sua liberdade dependerá de um
grande esforço, pois lhe exigirá uma fidelidade consigo mesma e o abandono de desculpas que ocasionem entraves para o seu crescimento. Não podemos nos esquecer, que estes antigos valores ainda estão
no inconsciente dos homens, entretanto, o terreno é fértil para o despertar de uma nova consciência!
É resgatando Ceuci, a Deusa-Mãe das Estrelas, que nós mulheres deixaremos de lado os vícios e
comportamentos que a sociedade patriarcal nos impingiu e entraremos em contato direto com o divino
feminino.
Se você puder realizar este ritual ao ar livre, tanto melhor.
Caso more em um apartamento,
posicione sua mesa perto de uma janela onde possa ver a Lua e as estrelas.
Primeiro você deve estender uma toalha azul no chão e desenhar ou colar 7 estrelas nela. Acenda
três velas cor de prata em triângulo, um incenso de eucalipto e encha uma taça com vinho tinto.
Passe a fumaça do incenso de eucalipto em torno de você, mentalizando a energia da cura. Depois
respingue um pouco do vinho sobre seu rosto e entre em estado de receptividade com as energias de
Ceuci, dizendo:
Deusa das Sete Estrelas,
Encontro-me aqui para te encontrar,
E para pedir para tudo mudar,
Seja minha companheira,
Guia-me nos caminhos da
vida e da luz,
Pois és Mãe Cósmica que reluz!
Atenda meus pedidos e
se faça presente.
Feche os olhos e respire e inspire profundamente por três vezes. Depois visualize a luz brilhante
das estrelas e tente localizar as Plêiades e chame por Ceuci.
Uma luz tomará aos poucos a forma de
uma mulher, que muito devagar descerá até seu jardim iluminando-o com uma forte luz prateada. Em
uma de suas mãos terá um fruto vermelho que oferecerá a você.
Tome-o e agradeça! Neste mesmo
instante pegue sua taça de vinho, beba você o primeiro gole e depois levante a taça em direção à ela,
brindando este encontro mágico.
Sinta então as estrelas que derramam sobre você raios de luz e deixe que esta energia percorra
todos os seus corpos: físico, mental e espiritual.
Aqueça-se nesta luz, preenchendo todos os espaços
vazios de seu ser.
Sinta-se então repleta, livre e feliz! Peça a Deusa das Plêiades que abençoe a nossa Terra e nos
faça todos irmãos.
Agradeça os momentos maravilhosos que lhe foram permitidos estar com ela.
Apague as velas e encerre o ritual.
Bibliografia:
Lendas Brasileiras - Afonso Schmidt; Livraria Pluma;
Porto Alegre; RS
As Amazonas -
Fernando G. Sampaio; Editora e Distribuidora de Livros Ltda; SP
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