Exu - A Vitalidade (Divindades nas diversas culturas passíveis de identificação com os Orixás)


Exu - A Vitalidade (Divindades nas diversas culturas passíveis de identificação com os Orixás)

por Alexandre Cumino 


Sabemos que Deus é um só manifesto por meio de muitos nomes diferentes, que implicam culturas e formas diversas de entendimento e concepção do que Ele vem a ser. 

Também podemos caracterizar esse fato como unidade e diversidade, a unidade da essência que encontra na diversidade formas variadas de entendimento, segundo a cultura e o perfil coletivo e individual. 

Por esta razão é tão importante que haja muitas religiões, pois cada uma atende uma maneira diversa de entender e expressar a realidade em que vivemos e o sagrado que permeia esta realidade. 

Pensando desta forma é mais fácil de entender que assim como Deus se amolda a certas concepções da divindade, assim também é com seus mistérios maiores e menores, assim também é com suas divindades maiores e menores. Com as divindades se dá processo análogo, Deus não cria novas divindades para novas religiões, as mesmas divindades assumem nomes e formas variadas, adaptam-se e amoldam-se nos cultos e culturas diversas, para alcançar o coração, mente e espírito de uma comunidade. 

Assim é com a Divindade ou Orixá Feminino do Amor, que nós identificamos na Umbanda como Oxum, que é a mesma Oxum do Candomblé; no entanto, como a Umbanda é outra religião, há um processo de releitura e adaptação entre a divindade e aqueles que recorrem a ela dentro desta realidade (Umbanda). 

Senão, vejamos, se nós identificamos uma divindade feminina do amor como Oxum, seguindo este raciocínio, é possível identificá-la em outras culturas com outros nomes, o que será apenas os diversos pontos de vista a cerca de um mesmo mistério. 

Na cultura grega Afrodite, romana Vênus, hindu Lakshmi, egípcia Isis, nórdica Freyja, celta Blodeuwed, chinesa Kwanin, asteca Xochiquetzal e outras. 

No Judaísmo nega-se a presença das divindades, no entanto, há centenas de anjos e variados nomes para Deus, em que cada nome revela uma de suas qualidades. 

No cristianismo também se negam as divindades, no entanto, os vários santos católicos formam, praticamente, um panteão de “semideuses”, cada santo ocupa o lugar de uma divindade. O que foi uma necessidade, durante o período de expansão do Catolicismo, pois os vários cultos à “Deusa do Amor” ou simplesmente ao Orixá Feminino do Amor têm uma função e razão de ser junto à humanidade. 

Desta forma, os santos passaram a ocupar e também a manifestar as qualidades, virtudes e mistérios que pertencem às divindades. 

Nossa Senhora praticamente assumiu a posição de Feminino de Deus, é ela a idealização da Grande Deusa, e em seus mais variados nomes vai apresentando os mistérios diversos de muitas divindades femininas por meio de seus nomes e arquétipos variados. Assim encontramos Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Virtudes, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora Desatadora dos Nós e outras, em que cada uma manifesta um mistério diferente na criação. 

Os mistérios da criação estão relacionados às divindades que lhes dão sustentação. Desta forma, uma divindade é manifestadora natural de um ou mais mistérios de Deus; por meio dos cultos às divindades entramos em contato com esses mistérios. Sei que para alguns ainda é difícil entender a diferença entre Orixá Exu e Entidade Exu. 

O Orixá Exu é a nossa forma de entender uma divindade de Deus, a Divindade ou Orixá da Vitalidade, aquele que dá vitalidade a toda a criação. 

A entidade exu é um espírito humano que trabalha com esse mistério, todos os exus de Umbanda, todas as entidades exu, trabalham sob o amparo e sustentação do Orixá Exu. 

Podemos dizer que o Orixá Exu está para as entidades Exu assim como Oxóssi está para os Caboclos, Obaluaê está para os Pretos-velhos ou Ibeji está para as Crianças. Por esta razão é fundamental começar este estudo partindo do Orixá Exu em que iremos encontrar muitos conceitos, qualidades, atributos e atribuições que deste passaram para as entidades. Ou não é verdade que nossos guias, exus, são chamados de mensageiros, senhores da magia, senhores do axé, da força, do poder, da proteção, guardiões e etc.? Que são adjetivos do Orixá Exu agora absorvidos e manifestos por nossas entidades. 

A Força, o Poder e o Mistério do Orixá Exu, na Umbanda, está sob a guarda das entidades exu que trabalham dentro do que chamamos de lei ou, se preferir, da Lei Maior. Como muitas coisas erradas já foram feitas em nome do Orixá Exu, como muita deturpação e muito trabalho negativo já se realizou em seu nome, coube aos Guardiões de Lei que conhecemos como entidades exu trabalhar com seu mistério. 

Também vemos afirmações como “Exu não é bom e nem ruim, depende o que você pede para ele”, “Exu não tem culpa e nem responsabilidade do que faz, o ônus cabe a quem o evocou e oferendou”. 

Essas afirmações podem ser verdadeiras quando se trata de Exu como elemento mágico, apenas, no entanto, Exu não se limita a elemento mágico, pois é parte integrante de uma religião. O que quero dizer é que religião implica ética e bom senso, toda religião tem objetivo de praticar o bem e ir ao encontro do sagrado. 

Umbanda é religião, portanto, só pode praticar única e exclusivamente o bem. Desta forma, entendemos que em magia é possível afirmar que a magia é uma só e que cada um dá a ela sua prática positiva ou negativa (“magia branca” ou “magia negra”, o correto seria dizer Magia da Luz ou Magia das Trevas). No entanto, em religião e na Umbanda, ao contrário do que muitos ainda hoje afirmam, exu só pode praticar única e exclusivamente o bem. Embora o bem seja relativo em sua prática não é em seu ideal. 

Para concluir, coloco aqui que não podemos aceitar que exu possa fazer o bem ou o mal dentro dos terreiros de Umbanda. Em nossa religião, exu faz exclusivamente o bem, pois trabalha nas linhas de lei, exu na Umbanda é Guardião de Lei trabalhando pela Luz, pela evolução e o bem da humanidade. 

Exu na Umbanda é uma entidade que, independente de ter ou não luz, possui o esclarecimento da lei de retorno e a certeza de que qualquer ação negativa realizada volta a quem pediu. 

Exu também é orientador, doutrinador e guia, se alguém pede algo de ruim a um exu dentro de um terreiro de Umbanda ele mesmo deve esclarecer, da sua forma, que isto não é bom nem para quem pede e nem para quem aceite realizar este pedido. 

Sobre esta questão é fundamental a leitura do livro O Guardião da Meia Noite (Rubens Saraceni – Ed. Madras). Voltando ao assunto de entidades, espíritos e guias que assumem, guardam ou manifestam mistérios de Deus e suas divindades, podemos dizer que é algo muito similar ao que aconteceu na Igreja Católica. 

Os Santos assumiram os mistérios das divindades que são a sustentação de tudo que se realiza em nome deles. Muitos santos nunca nem existiram, foram fabricados, por este fato a igreja não reconhece mais alguns santos, como São Jorge, São Cosme e Damião, São Sebastião e outros, como Santo Expedito, que embora seja muito popular também é polêmico, afinal “expedito” não é nome e sim uma função de um oficial da guarda romana que ia à frente, corria, para levar e trazer notícias de um local ao outro. 

Também já foram pensados sincretismos de santos com Orixá Exu, como o próprio Expedito, Santo Antônio, São Pedro e até Menino Jesus em alguns lugares do caribe, no qual exu não foi demonizado e guarda em um de seus aspectos a forma jovial e inocente, que justifica sua irreverência e traquinagens mitológicas. 

Algo semelhante se dá com Khrisna criança, que se diverte com as próprias estripulias ou com Hermes grego, que ainda criança faz mil e uma artes e até rouba os rebanhos de seu irmão Apolo

No caso do Orixá Exu ou Trono da Vitalidade, trata-se de uma divindade que atua em todas as vibrações, em todas as linhas a partir de si mesmo ou por meio dos outros Orixás. Mas este já é assunto para outro texto, ou ainda para a leitura do Livro de Exu – O Mistério Revelado (Rubens Saraceni – Ed. Madras). 

Quanto à Divindade ou Trono da Vitalidade, também assume nomes diferentes e formas variadas nas diversas culturas, para nós é Orixá Exu. Encontrar suas manifestações diversas é trabalho de pesquisa muito enriquecedor, pois estudar outras manifestações do mesmo mistério nos traz maior compreensão sobre o mesmo. 

Trono Masculino da Vitalidade Exu, Shiva, Hermes, Pã, Príapo, Dionísio, Min, Bes, Seth, Savitri, Lóki, Baal, Shulpae, Shullat, Kanamara Matsuri, Baco, Anzu.

 Exu — Divindade africana, da cultura Nagô que predomina na região da atual Nigéria e parte da República Popular do Benim. É o Trono da Vitalidade e também um Trono Tripolar (vitaliza, desvitaliza ou neutraliza toda e qualquer ação). 

Orixá Exu tem origem Nagô, onde é Divindade fálica, age também no sentido do vigor físico e espiritual. Seu nome, na língua Yorubá, quer dizer Esfera, mostrando ser uma Divindade que atua em Tudo e em todos os campos. 

Considerado o mensageiro dos outros Orixás, Exu vitaliza ou desvitaliza qualquer um dos sete sentidos, sendo muito evocado e muito atuante pela abrangência de seu mistério. O tridente, ferramenta de Exu na Umbanda, nunca teve conotação negativa, pelo contrário. 

O Tridente sempre foi algo divino nas culturas pagãs anteriores ao Cristianismo, por isso a cultura católica fez questão de pregar o inverso, para facilitar a conversão de seus fiéis e fazer com que esquecessem os mistérios a que tinham acesso direto. 

Agora o único acesso a qualquer mistério estaria na mão de um Sacerdote Católico. Podemos citar o uso de Tridente por Zeus, Netuno, Tritão, Posseidon e Shiva, entre outros. 

Esses tridentes mostram o valor divino concedido a eles; a trindade; o alto, o meio e o embaixo; Céu, Mar e Terra; Luz, sombra e trevas; Pai, Mãe e Filho; etc. 

Na cultura católica, essa trindade perde toda sua relação com o tridente e aparece apenas como Pai, Filho e Espírito Santo, deixando de lado o elemento feminino, tão importante que se concentrará na figura de Maria, Mãe de Jesus. 

Assim, Exu evoca seu mistério do vigor e o mistério tridente já tão deturpado em nossa cultura, mas de grande valor como mistério divino, pois traz em si poder de realização, desde que manifesto da forma correta. 

Elegbara – Também conhecido como Elegba, Legba, Elebá, Lebá, Elegua, Légua e outros é divindade da cultura Gêge, Vodun, na língua Fon. Seu nome significa Poderoso, tem em si todas as qualidades do Orixá Exu, e de cultura tão próxima na África houve também sincretismos. 

Elebara é sinônimo de Exu e tornou-se na cultura Yorubá também uma das qualidades do Orixá Exu.

 Aluvaiá – Este é o nome da Divindade da Vitalidade na cultura bantu, na língua quimbundo, portanto é um “inquice”, é o Exu dos Cultos Angola/Congo. 

Shiva – Divindade hindu, é a terceira pessoa da trindade formada por Brama, Vishnu e Shiva, na qual um constrói, ou outro mantém e o terceiro destrói a criação para que torne a construir outra vez. 

Tem como consorte (esposa) Parvati, que também se manifesta como Durga ou Kali. Pai de Ganesha a quem deu o título de Senhor dos Exércitos de Shiva. 

Shiva reina sobre todos os seres “infernais” e “trevosos”, ele tem o poder destruidor e transformador. Shiva é o grande Yogue, o Maha Deva (Grande Deus), todos vão a sua cidade natal Varanasi para passar os últimos dias de vida ao lado do Rio Ganges assim depurando o carma, para ao desencarnar na Cidade de Shiva ficar livre da roda dos renascimentos, Sansara. 

Shiva é Fálico, nos seus rituais chamados Puja o sacerdote Pujari faz oferendas em torno de um lingan que representa o falo de Shiva. O lingan é todo besuntado com iogurte e mel, que também consiste da oferenda. Shiva usa um Tridente que representa seu poder trino, enquanto terceira pessoa, e também para lembrar que onde está uma pessoa estão as três pessoas. 

O Tridente também representa o poder no Alto, no meio e no Embaixo. Shiva enquanto terceira pessoa da trindade também manifesta qualidade de outras divindades ou Orixás, pois uma de suas manifestações é chamada de Nataraja, quando Shiva aparece dançando dentro de um círculo de fogo. Sua dança é quem mantém o universo em constante movimento, é a Dança Cósmica do Universo. 

No fogo, na dança e na destruição podemos associar Shiva a outros Orixás, o que é normal, pois mesmo Ogum se manifesta de formas diversas, quando manifesta a lei no campo dos outros Orixás. 

Hermes — Divindade grega, filho de Zeus com a ninfa Maia, é o mensageiro dos Deuses. Responsável por tudo que se relacionasse com movimento, viagem, estradas, moeda e transações comerciais. Por isso aparecia sempre usando um chapéu de viajante e sandálias aladas. Na mão, levava uma varinha mágica feita de duas cobras enroscadas em uma haste. 

— Divindade grega, filho de Hermes, torso humano, pernas e chifres de bode, deus dos campos, dos pastores e dos bosques. Adorava a companhia de Sátiros, excelente músico e dançarino, adorava perseguir as ninfas. De voz aterradora é a partir de seu nome que surgiu a palavra “pânico” que diz respeito a assustar-se com a presença de Pã. 

Príapo — Divindade grega, filho de Afrodite e Hermes, Divindade fálica da fertilidade. 

Dionísio — Divindade grega, filho de Zeus e de Sêmele, Deus dos vinhos e folguedos, vagava por todo o país bebendo vinho e dançando sem parar. Teve seu culto inicial mais ligado aos aspectos de divindade da floresta, possuindo qualidades fálicas foi deixando para trás sua natureza vegetal, lembrada apenas pelo vinho e videiras. Como divindade fálica, aparece com sobrenomes como Ortos, “O Ereto”, e Enorques, “O Bitesticulado”. 

Min — Divindade egípcia, Divindade fálica, também da abundância, da fertilidade, da força, do poder e do vigor. 

Bes — Divindade egípcia, “Deus da Concupiscência e do Prazer”, de origem estrangeira, aparece de pé sobre um lótus; também é fálico. 

Seth — Divindade egípcia, Senhor do Caos ou da desordem, também transmite força, poder e vigor. Atua de forma tripolar e muitas vezes atuará no campo do Trono Oposto ao Trono da Lei, pois sua presença gera a desordem, bem como sua ausência beneficia a Ordem Divina. 

Savitri — Divindade hindu, “su” raiz do nome (“estimular”) é o “estimulador de tudo”. 

Lóki — Divindade nórdica, irmão de Odim, é Divindade de força e poder que muitas vezes direciona todo esse potencial de forma não compreensível. Incansável em suas ações, é em si o próprio mistério do Vigor agindo de forma dual, ora positivo e ora negativo. 

Baal — Divindade caldeia, cananeia e fenícia, “Senhor” ou “Esposo”. Também é um deus fálico. 

Shulpae — Divindade sumeriana com uma série de atribuições, incluindo fertilidade e poderes demoníacos. 

Shullat — Divindade sumeriana, consorte de Hanish. Servo do deus sol. Equivalente a Hermes, o mensageiro divino. 

Kanamara Matsuri — Divindade japonesa, “falo de ferro”, senhor da fertilidade, reprodução e sexualidade, trazia fartura e cura para a impotência e a esterilidade. 

Baco — Divindade grega do vinho e da vindina, da devassidão e do alvoroço. 

 Anzu — Divindade babilônica, Águia de cabeça de leão, porteiro de Enlil, nascido na montanha Hehe. Apresentado como o ladrão mal-intencionado no mito de Anzu, mas benevolente no épico sumério de Lugalbanda. 

 O Trono Masculino da Vitalidade, Exu, tem sido muito mal compreendido desde que fomos dominados por uma cultura que vê a união carnal como pecado original. 

A região sacra do corpo humano tornou-se algo a ser escondido como vergonhoso. A fertilidade divina perde sua relação com o vigor físico, logo, as Divindades fálicas são mal compreendidas e facilmente associadas a algo negativo. 

Espiritualmente, o órgão sexual, responsável pela concepção, geração, multiplicação e perpetuação da espécie é divino, sem dúvida, sendo algo negativo a “bestialização” do que nos foi reservado para o Amor. 

Logo, a vitalidade, o vigor e o estímulo são algo essencial para a vida, pois é aplicado não apenas com conotação sexual e sim em todos os campos da vida, pois uma pessoa desvitalizada ou desestimulada, rapidamente, vai perdendo a vontade de viver. 

Entendemos assim que, como esse, muitos outros mistérios e tronos de Deus são incompreendidos; nossos tabus e conceitos muitas vezes encobrem a visão do que é sagrado e divino em nossas vidas. 

Bibliografia: Deus, Deuses, Divindades e Anjos. Alexandre Cumino, Ed. Madras


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