Orixá e Entidade Exu Mirim O Enigma Exu Mirim



Orixá e Entidade Exu Mirim - O Enigma Exu Mirim 
por Rubens Saraceni 


No decorrer dos milênios, todas ou quase todas as religiões organizadas tiveram nos gêmeos infantis um dos seus mistérios, e eles ocuparam e ainda ocupam um lugar de destaque em muitas delas. 

Na África, em várias religiões, os gêmeos estão presentes ou, quando não aparecem juntos, pelo menos um se faz presente. Assim como ocorre entre os índios brasileiros, em que a criança é chamada de curumim e há seres sobrenaturais infantis ou mirins. 

Se assim foi, é e será, então temos que identificar melhor esse mistério e descobrir algumas de suas funções na Criação, porque a partir daí ele fica fundamentado e o entendimento sobre ele torna-se acessível a todos os umbandistas que, quer queiram ou não, têm à esquerda uma entidade “infantil” cuja companhia não recomenda ao seu filhinho, pois preferem colocá-lo num jardim de infância frequentado só por criancinhas da “direita”. 

Afinal, essas crianças da “esquerda” (os Exus e as Pombas-giras Mirins) fumam, bebem e ainda atazanam a vida de quem os ofende ou os desagrada, não é mesmo? São crianças condenadas ao purgatório ou ao abandono nas “ruas”, largadas não se sabe por quem, pois nenhum Orixá assumiu a paternidade delas e nenhum os recolheu aos seus Domínios na Criação, preferindo enviá-los para os de Exu que, ao contrário dos outros Orixás, não nega abrigo em seus domínios a ninguém. 

A todos Exu acolhe e com todos se relaciona amigavelmente. E assim foi na Umbanda, quando ninguém sabia o que fazer com os infantes da esquerda, Exu deu-lhes casa e comida, digo, domínio e campo de ação. Firmado no lado de fora dos templos de Umbanda, mas ganhando aqui e acolá um “ebozinho” minguado para resolver complicações indissolúveis, Exu Mirim foi sobrevivendo à míngua e entre a própria sorte... ou azar quem sabe? 

Isolado no gueto ou no cortiço dos meninos mal-educados e desbocados, Exu Mirim raramente entra na “casa grande” (no templo) e, ainda assim, é para limpar e levar embora a sujeira alheia (dos consulentes). Afinal, só raramente o chamam para realizar um trabalho de ponta a ponta, ou seja, do começo ao fim! Mas, boa parte da má educação e do “desbocamento” dessas entidades infantes da esquerda deve-se ao comportamento dos seus médiuns e não ao Orixá Exu Mirim. Afinal, que melhor momento há para fazer “artes” do que quando incorporado com seu Exu Mirim, não é mesmo? Que melhor oportunidade há para falar palavrões do que quando incorporado por um espírito “desbocado e mal-educado?”. 

Há médiuns que chegam a enfiar os dedos nas narinas e comer ou fingirem que comem “ronhas”, chocando quem os veem fazendo tal coisa. Há outros que fazem micagens (gestos de macacos) e mostram a língua para os assistentes, além de gestos obscenos impublicáveis quando incorporados com seus Exus Mirins, fazendo uma pantomima nada religiosa. Mas isso não é inerente aos Exus Mirins, e sim, à falta de informações dos seus médiuns, pois não se doutrinam nem aos espíritos que incorporam e os usam para extravasarem o que têm em seus íntimos. 

Exu Mirim é superior a tudo isso e, mesmo sendo relegado à míngua na maioria dos centros e por um grande número de médiuns umbandistas, vem sobrevivendo com um dos mais fechados dos mistérios da Umbanda e vem resistindo a comentários mais absurdos possíveis já publicados por pessoas que não só o desconhecem como nada sabem sobre ele. 

Exu Mirim 
por Rubens Saraceni 

Escrever sobre Exu Mirim se faz necessário nesse momento porque, desde que psicografei o livro Lendas da Criação - A Saga dos Orixás, sua importância na Criação e na Umbanda mostrou-se maior do que se imaginava. Não temos escritos abundantes à nossa disposição que nos ensinem sobre esse Orixá ou que o fundamente com Mistério Religioso. Essa falta de textos esclarecedores e fundamentais das suas manifestações religiosas nesse primeiro século de existência da Umbanda deixou Exu Mirim à própria sorte, ou seja: há vagos comentários sobre seus manifestadores que pouco ou nada esclareceram sobre eles e ao que vieram! Inclusive, por terem sido descritos como “espíritos de moleques de rua”, cada um incorporava-o com os típicos procedimentos de crianças mal-educadas, encrenqueiras, bocudas, chulas, etc. 

Foram tantos os disparates cometidos que é melhor esquecê-los e reconstruir todo um novo conhecimento sobre o Orixá Exu Mirim, antes que ele deixe de ser incorporado e relegado ao esquecimento, como já foi feito com muitos dos Orixás que, por falta de informações corretas e fundamentadoras, deixaram de ser cultuados aqui no Brasil. 

No Lendas da Criação, Exu Mirim assumiu uma função e importância que antes nos eram desconhecidas. A função é a de fazer regredir todos os espíritos que atentam contra os princípios da vida e contra a paz e a harmonia entre os seres. A importância é a de que nada pode ser feito na Criação sem a concordância de Exu Mirim. 

Com Exu, dizia-se que “sem ele não se faz nada”. Já, com Exu Mirim, “sem ele nem fazer nada é possível”. 

Vamos por partes para entendermos sua importância e fundamentá-lo, justificando sua presença na Umbanda. 

1) Cada Orixá é um dos estados da Criação. Um é a Fé, outro é a Lei, outro é o Amor, e assim por diante, independente de suas interpretações religiosas. 

2) Por serem estados, são indispensáveis, insubstituíveis e imprescindíveis à harmonia e ao equilíbrio do todo. O estado da matéria considerado “frio” só é possível por causa da existência do estado “quente”, e ambos na escala Celsius indica os dois estados das temperaturas. Sem um não seria possível dizer se algo está frio ou quente, se algo é doce ou amargo, se algo é bom ou ruim, etc. É a esse tipo de “estado” que nos referimos, e não a um território geográfico, certo? 

3) Muitos são os estados da Criação e cada um é regido por um Orixá e é guardado e mantido por todos os outros, pois se um desaparecer (recolher-se em Deus), tal como numa escada, ficará faltando um degrau, e tal como numa escala de valores estará faltando um grau que separe o seu anterior do seu posterior. 

4) Quando a Umbanda iniciou-se no plano material, logo surgiu uma linha espiritual ocupada por espíritos infantis amáveis, bonzinhos, humildes, respeitosos e que chamavam todos(as) de titios e titias ao se dirigirem às pessoas ou aos Orixás e guias espirituais. Também chamavam os pretos(as)- velhos(as) de vovô e de vovó. Até aí tudo bem! 

5) Mas logo começaram a “baixar” uns espíritos infantis briguentos, encrenqueiros, mal-educados, intrometidos, chulos e que dirigiam-se às pessoas com desrespeito chamando-os disso e daquilo, tais como: seu pu.., sua p..., seu v...., seu isso e sua aquilo, certo? E quando inquiridos, se apresentavam como “exus” mirins, os exus infantis da Umbanda numa equivalência com um erê da esquerda existente no Candomblé de raiz nigeriana. 

6) Exu Mirim assumiu o arquétipo que foi construído para ele: o de menino mau! E tudo ficou por aí com ninguém se questionando sobre tão controvertida entidade incorporadora em seus médiuns, pois eles diziam que todo médium tem na sua esquerda um Exu Mirim além de um e Exu e uma Pomba Gira. 

7) De meninos mal-educados, como tudo que “começa mal” tende a piorar, eis que as incorporações de entidades Exus Mirins começaram a ser proibidas nos centros de Umbanda devido à vazão de desvios íntimos dos médiuns que eles extravasavam quando incorporavam nos seus. 

8) De mal vistos, para pior, essa linha de trabalhos espirituais (onde cada médium tem o seu Exu Mirim), quase desapareceu e só restaram as incorporações e os atendimentos de um ou outro Exu Mirim “muito bom” mesmo no ato de ajudar pessoas. 

9) Então ficou assim decidido, mais ou menos, por muitos: 
a) Exu Mirim existe, é mal-educado e incontrolável e de difícil doutrinação. 
b) Vamos deixar Exu Mirim quieto e vamos trabalhar só com linhas espirituais doutrináveis e possíveis de serem controladas dentro de limites aceitáveis. 

10) Exu Mirim praticamente desapareceu das manifestações Umbandistas porque suas incorporações fugiam ao controle dos dirigentes e seus gestos e palavrões envergonhavam a todos. 

11) Como é característica humana negar tudo o que não pode controlar e ocultar tudo o que “envergonha”, o mesmo foi feito com Exu Mirim, que existe, mas não é recomendável que incorpore em seus médiuns. Certo? Errado, dizemos nós, porque muitos médiuns já ajudaram a muitas pessoas com seus exus mirins doutrinadíssimos e nem um pouco influenciados pela personalidade “oculta” de quem os incorporava. Todos se adaptam a regras comportamentais se seus aplicadores forem rigorosos tanto com os médiuns quanto com quem incorporar neles. O melhor exemplo começa com as incorporações comportadas de quem dirige os trabalhos espirituais. E uma boa orientação sobre as entidades ajuda muito, porque o que os médiuns internalizarem sobre elas será o regularizador das entidades. Agora se, por acaso, o dirigente adota um comportamento discutível, aí seus médiuns o seguirão intuitivamente, pois o tomam como exemplo a ser seguido. Em inúmeras observações vimos os médiuns repetindo seus dirigentes e, inclusive, com as incorporações e danças dos guias incorporados neles. Essa assimilação natural ou intuitiva é um indicador de que o exemplo que vem “de cima” ainda é um dos melhores reguladores comportamentais. Agora, quando o dirigente incorpora seu Exu Mirim e este, por ser do “chefe”, faz micagens, caretas, gestos obscenos, atira coisas nas pessoas, xinga-as e fala palavrões, aí tudo se degenera e seus médiuns procederão da mesma forma porque, em suas mentes e inconscientes, é assim que seus Exus Mirins devem comportar-se quando incorporados. Essa foi uma das razões para o ostracismo a que foi relegada a linha dos Exus Mirins. E isto sem falarmos em supostos Exus Mirins, que quando incorporavam ou ainda incorporam por aí afora, pegam, ou lhe são dados, saquinhos de papel que ficam cheirando, como se fossem as infelizes crianças de rua viciadas em cheira “cola de sapateiro”. Há certos comportamentos que devemos debitá-los ao arquétipo errôneo construído por pessoas desinformadas sobre essa linha de trabalhos espirituais Umbandistas. 

Falemos sobre os verdadeiros Exus Mirins: 

1) Não são espíritos humanos, em hipótese alguma. 

2) Exus Mirins são seres encantados da natureza provenientes da sétima dimensão à esquerda da que nós vivemos. 

3) A irreverência ou má educação comportamental não são típicas deles na dimensão onde vivem. 

4) São naturalmente irrequietos e curiosos, mas nunca intrometidos ou desrespeitadores. 

5) Por um processo osmótico espiritual, refletem o inconsciente de seus médiuns, tal como acontece com Exu e Pomba Gira. Logo, são nossos refletores naturais. 

6) Gostam de beber as bebidas mais agradáveis ao paladar dos seus médiuns, sejam elas alcoólicas ou não. 

7) Apreciam frutas ácidas e doces “duros”, tais como: rapadura, pé de moleque, quebra queixo, cocadas secas e balas “ardidas” (de menta ou hortelã). 

8) Se bem doutrinados prestam inestimáveis trabalhos de auxílio aos frequentadores dos centros de Umbanda. 

9) Não aprovam ser invocados e oferendados em trabalhos de demandas e magias negativas contra pessoas. 

10) Toda vez que seus médiuns os ativam para prejudicar os seus desafetos, seus Exus Mirins se enfraquecem automaticamente; já aconteceram inúmeros casos de médiuns que ficaram sem seus verdadeiros Exus Mirins porque os usaram tanto contra seus desafetos que eles ficaram tão fracos e foram aprisionados, e kiumbas oportunistas tomaram seus lugares junto aos seus médiuns, passando daí em diante a criar problemas para suas vítimas que ainda acreditavam que estavam incorporando seus verdadeiros Exus Mirins. 

11) Eles raramente pedem seus assentamentos ou firmezas permanentes e preferem ser oferendados periodicamente na natureza, tal como as crianças da direita. 

12) Se bem doutrinados e colocados a serviço dos frequentadores dos centros umbandistas, realizam um trabalho caritativo único e insubstituível. 

Vamos resgatar os Exus Mirins da Umbanda e libertá-los do falso arquétipo que mentes e consciências distorcidas criaram para eles? 

Este texto faz parte do Livro: “Orixá Exu Mirim - Fundamentação do Mistério na Umbanda” de Rubens Saraceni, Ed. Madras


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