Obaluayê e Omulu - Dois estágios de um mesmo Orixá
É sincretizado como São Roque na forma de Obaluaiê, o jovem. Na forma mais velha, de Omulú, é sincretizado como São Lázaro.
Omulú é sincretizado com São Lázaro, que é um santo da Igreja Católica, protetor contra a peste e padroeiro dos inválidos e cirurgiões. A sua popularidade, devido à intercessão contra a peste, é grande sendo protetor de múltiplas comunidades em todo o mundo católico e padroeiro de diversas profissões ligadas à medicina e ao tratamento de animais especialmente aos cães.
Tem como emblema o Xaxará (Sàsàrà), espécie de cetro de mão, feito de nervuras da palha do dendezeiro, enfeitado com búzios e contas, em que ele capta das casas e das pessoas as energias negativas, bem como “varre” as doenças, impurezas e males sobrenaturais. Esta representação nos mostra sua ligação a terra.
Obaluaê quer dizer “Rei e Senhor da terra” sua veste é palha e esconde o segredo da vida e da morte. Está relacionado à terra quente e seca, como o calor do fogo e do sol – calor que lembra a febre das doenças infecto-contagiosas. Conta-se em Ibadã que Obaluaê teria sido antigamente o Rei dos Tapás. Uma lenda de Ifá confirma esta última suposição. Obaluaê era originário de Empê – Tapá e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatros cantos da terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluaê representa a terra e o sol, aliás, ele é o próprio sol, por isso usa uma coroa de palha (azê) que tampa seu rosto, porque sem ela as pessoas não poderiam olhar para ele. Ninguém pode olhar o sol diretamente. Está fortemente relacionado os troncos e os ramos das árvores e transporta o axé preto, vermelho e branco. Sua matéria de origem é a terra e, como tal, ele é o resultado de um processo anterior. Relaciona-se também com os espíritos contidos na terra. O colar que o simboliza é o ladgiba, cujas contas são feitas da semente existente dentro da fruta do Igi-Opê ou Ogi-Opê, palmeiras pretas. Usa também bradga, um colar grande de cauris.
Obaluaê mede a riqueza com cântaros, mas o povo esqueceu-se de sua riqueza e só se lembra dele como o Orixá da moléstia. Afirmam-se em registros bibliográficos ser Omolu e Obaluaê um só Orixá em dois estágios: Obaluaê (o Moço) significa o “Dono da Terra da Vida”; Omolu (o Velho) significa o “Filho-da-Terra”.
É o médico dos pobres; o senhor dos cemitérios. Usa o aze (capacete de pele da Costa) ou o filah (capuz de palha da Costa) e carrega na mão o xaxará (feixe de fibra de palmeira, enfeitado com búzios). Seu dia é a segunda-feira. Sua comida forte é o doburu (pipocas sem sal, coco fatiado e regado com mel).
Obaluaê é o patrono dos cauris e do conjunto dos 16 búzios, que reina do instrumento ao sistema oracular: o brendilogun, que lhe pertence. Seu poder está extraordinariamente ligado à morte. Oba significa Rei (Oni), Ilu espíritos e Aiyê (significa terra), ou seja, Rei de Todos os Espíritos do Mundo. Ele lidera e detém o poder dos espíritos e dos ancestrais, os quais o seguem. Oculta sob o saiote o mistério da morte e do renascimento (o mistério do gênesis). Ele é a própria terra que recebe nossos corpos para que vire pó. Qualidades: Registra-se 12 qualidades atribuídas a esse Orixá, que também é considerado o mais antigo do Panteão Afro, sendo as mais conhecidas: Sapata, Xapanan, Xankpanan, Babalu, Azoane, Ajagum, Ajunsun e Avimage.
Vestimenta: A vestimenta é feita de ìko, é uma fibra de ráfia extraída do Igí-Ògòrò, a palha da costa , elemento de grande significado ritualístico, principalmente em ritos ligados a morte e o sobrenatural, sua presença indica que algo deve ficar oculto. É composta de duas partes o “Filá” e o “Azé”, a primeira parte, a de cima que cobre a cabeça é uma espécie de capuz trançado de palha-da-costa, acrescido de palhas em toda sua volta, que passam da cintura, o Azé , seu asó-ìko (roupa de palha) é uma saia de palha da costa que vai até os pés em alguns casos, em outros, acima dos joelhos, por baixo desta saia vai um Xokotô, espécie de calça, também chamado “cauçulú”, em que oculta o mistério da morte e do renascimento. Nesta vestimenta acompanha algumas cabaças penduradas, onde supostamente carrega seus remédios. Ao vestir-se com ìko e cauris, revela sua importância e ligação com a morte (iku).
Obàluáyê “Rei senhor da Terra”, Omolu “Filho do Senhor”, Sapata “Dono da Terra” são os nomes dados a Sànpònná (um título ligado a grande calor o sol – também é conhecido como (Babá Igbona = pai da quentura) deus da varíola e das doenças contagiosas, é ligado simbolicamente ao mundo dos mortos. Outra corrente os define como: Obàluáyê: Obá – ilu; aiye; Rei, dono, senhor; da vida; na terra; Omolu; Omo-ilu; Rei, dono, senhor; da vida. Sincretismo: São Lázaro e São Roque Comida: Pipoca e Carré Cor: Preto, vermelho e branco Dia da semana: Segunda -feira Símbolo: Leguidibá, Xaxará e Brajá de búzios Saudação: – Atotô! Domínio – Doença e cura, morte e renascimento Elemento: Terra
Texto de TV MARIA BONITA (youtube)
O SINCRETISMO RELIGIOSO DA IGREJA DE SÃO LÁZARO E SÃO ROQUE
Do alto do cume ainda é possível enxergar o mar, que desenha uma meia lua por trás da igreja erguida em 1573. Na época, as construções que dão forma ao Largo de São Lázaro não passavam de uma mata verde, distante das zonas populosas o suficiente para a criação de um hospital que abrigava homens e mulheres, trazidos do continente africano em condição de escravos, contaminados pela lepra.
A doença, naquele momento incurável, era transmitida através do contato e simbolizava a impureza. Ali, em frente à casa de saúde, homens isolados construíram um espaço de conexão com o seu divino, que mais tarde se tornaria a Igreja de São Lázaro e São Roque, santos católicos, e um ambiente íntimo a Omolu e Obaluaiê, orixás de religiões de matrizes africanas que simbolizam a cura e a enfermidade, a vida e a morte. Embora preserve a liturgia e as características do catolicismo, a igreja é visitada por pessoas de diferentes crenças, que se embalam ao som dos atabaques durante as celebrações, especialmente lotadas às segundas-feiras.
A edificação é simples. Uma pequena escada nos conduz à sua única porta, que dá acesso ao salão principal, com altar ilustrado por uma imagem de São Lázaro, o primeiro padroeiro da casa. Nos ângulos é possível observar mais dois altares, onde estão São Roque, que virou segundo padroeiro já nos anos 90, e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O estilo rural, contendo apenas um corredor e tribunas em um só lado, é de origem romântica, característica dos primeiros anos de colonização pelos jesuítas. O hospital de isolamento ali construído ficava logo atrás da atual estrutura e foi desativado em 1787. Hoje o terreno pertence ao Governo do Estado da Bahia e nele não há qualquer sinal de sua história.
Segunda-feira o dia começa mais cedo na paróquia do Padre Cristóvão Przychock, um polonês radicado em Salvador há doze anos, seis deles dedicados à Igreja de São Lázaro e São Roque, na Federação.
É dia de Omolu e Obaluaiê. Para o pároco, um dia comum de missas cheias. Para os frequentadores do espaço, uma oportunidade de visitar a igreja e pedir suas bênçãos. As barraquinhas são montadas por quase todo o percurso que dá acesso ao santuário. O banho de pipoca é oferecido aos fiéis, que fazem filas para cumprir o ritual pós missa. “É muito antigo e faz parte da história da igreja. Desde a chegada dos padres poloneses, em 1972, que já existia essa movimentação”, conta Cristóvão. A atitude divide opiniões. Nem sempre é elogiada pelo povo do axé, que reserva determinadas práticas ao ambiente propício de suas casas, mas, configura uma tradição do largo, bonita de se assistir a céu aberto.
Assim como a Igreja do Rosário dos Pretos, famosa pelo burburinho religioso da terça-feira no Centro Histórico, a Igreja de São Lázaro e São Roque preservou, além do tempo, as tradições musicais do seu povo. Os instrumentos de percussão dão o tom da celebração, alegre e irreverente, que conta com a participação de mulheres da comunidade que entram dançando ijexá em momentos específicos da missa. “Aqui recebemos todas as pessoas, de diferentes religiões. A casa de Deus é aberta a todos. Celebramos a missa acolhendo e respeitando a cultura do outro, suas crenças. Precisamos entender que esse aspecto histórico é muito forte e rico. Ele existe”, defende o religioso. Em um altar reservado, à esquerda de quem entra, a imagem de São Lázaro é rodeada por representações de partes do corpo humano daqueles que alcançaram suas graças. É lá também que depositam cestas de pipocas, a principal oferenda feita para Omolu e Obaluaiê, chamada Doburu. É durante uma das principais procissões da Igreja que o cortejo religioso vai até o Campo Santo e retorna. Coincidência ou não, o orixá é o senhor das doenças e dos mortos, regente do cemitério. Carrega chagas no corpo, como aqueles que um dia possuíram lepra, e se esconde cobrindo-se de palhas. Detalhes como esses reforçam a força do sincretismo religioso que perdura por séculos.
A primeira e última segunda-feira do ano são datas sagradas. Missas lotadas e muitos fiéis cumprindo suas promessas. Também é de se esperar casa cheia nas festas dos padroeiros, São Lázaro e São Roque, a primeira comemorada no último domingo de janeiro e a segunda no dia 16 de agosto.
“São momentos muito diferentes. A gente brinca que São Roque passou à frente de São Lázaro, pois sua festa é muito maior. A comemoração de São Lázaro é mais silenciosa, mais calma. São Roque tem uma festa de largo. Mas, tudo bem. Às vezes a pessoa não vem propriamente pela fé, mas vem. Se ela veio, está procurando por algo diferente, que complete o seu vazio. Isso também é importante”, conclui.
Independente das diferentes manifestações religiosas, o santuário resiste no alto do bairro, preservando a força da sua história, abrigando as diversas crenças e devoções e afeto. Uns pelos santos católicos, outros por seus orixás. E tem aqueles que se comunicam com ambos os lados e seguem na certeza de que estão verdadeiramente protegidos de quaisquer males que, pelo caminho, venham a surgir.
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