Alguns Esclarecimentos sobre a Curimba
Alguns Esclarecimentos sobre a Curimba
Por Fernando Sepe
Louvação aos Ogãs
"Ah, como é lindo o batuque do Tambor
Ah, como é lindo o batuque do Tambor
Na Umbanda linda de Nosso Senhor
Na Umbanda linda de Nosso Senhor
É a mensagem que enaltece os Orixás
É a oração que elevo ao senhor
É a vibração que nos faz incorporar
Sem batuque na umbanda
Não se pode trabalhar
Eu não sabia, mas agora aprendi
Que o canto faz a gira de Umbanda
Quem canta, encanta a vida dos Orixás
É uma benção, divina que emana muita paz"
Autor Desconhecido
Curimba é o nome que damos para o grupo responsável pelos toques e cantos sagrados
dentro de um terreiro de Umbanda.
São eles que percutem os atabaques (instrumentos
sagrados de percussão), assim como conhecem cantos para as muitas “partes” de todo o ritual
umbandista.
Esses pontos cantados, junto dos toques de atabaque, são de suma importância
no decorrer da gira e por isso devem ser bem fundamentados, esclarecidos e entendidos por
todos nós.
Muitas são as funções que os pontos cantados têm. Primeiramente uma função
ritualística, onde os pontos “marcam” todas as partes do ritual da casa. Assim temos pontos
para a defumação, abertura das giras, bater cabeça, etc.
Temos também a função de ajudar na concentração dos médiuns. Os toques assim como
os cantos envolvem a mente do médium, não a deixando desviar–se do propósito do trabalho
espiritual. Além disso, a batida do atabaque induz o cérebro a emitir ondas cerebrais
diferentes do padrão comum, facilitando o transe mediúnico.
Esse processo também é muito utilizado nas culturas xamânicas do mundo afora.
Entrando na parte espiritual, os cantos, quando vibrados de coração, atuam diretamente
nos chacras superiores, notavelmente o cardíaco, laríngeo e frontal, ativando–os
naturalmente e melhorando a sintonia com a espiritualidade superior, assim como, os toques
dos atabaques atuam nos chacras inferiores (básico, esplênico e umbilical), criando condições
ideais para a prática da mediunidade de incorporação.
As ondas energéticas – sonoras emitidas pela curimba, vão tomando todo o centro de
Umbanda e vão dissolvendo formas – pensamento negativas, energias pesadas agregadas nas
auras das pessoas, diluindo miasmas, larvas astrais, limpando e criando toda uma atmosfera
psíquica com condições ideais para a realização das práticas espirituais.
A curimba transforma–se em um verdadeiro “pólo” irradiador de energia dentro do terreiro, potencializando ainda
mais as vibrações dos Orixás.
Os pontos transformam–se em “orações cantadas”, ou melhor, verdadeiras
determinações de magia, com um altíssimo poder de realização, pois é um fundamento
sagrado e divino.
Poderíamos chamar tudo isso de “magia do som” dentro da Umbanda.
A Curimba também é de suma importância para a manutenção da ordem nos trabalhos
espirituais, com os seus pontos de “chamada” das linhas, “subida”, “firmeza”, “saudação”,
etc.
Entendam bem, os guias não são chamados pelos atabaques como muitos dizem. Todos já
encontram–se no espaço físico - espiritual do terreiro antes mesmo do começo dos trabalhos.
Portanto a curimba não funciona como um “telefone”, mas sim como uma sustentadora da
manifestação dos guias. O que realmente invoca os guias e os Orixás são os nossos
pensamentos e sentimentos positivos vibrados em vossas direções.
Muitas vezes ao cantar
expressamos esse sentimentos, mas é o amor aos Orixás a verdadeira invocação de
Umbanda.
Falando agora da função de atabaqueiro e curimbeiro, ou simplesmente da função de
“ogã” como popularmente as pessoas chamam na Umbanda, enfatizamos a importância deles
serem bem preparados para exercerem tal função. Infelizmente ainda hoje a mentalidade de
que o ogã é “qualquer um que não incorpore” persiste. Mas afirmamos, o ogã como peça
fundamental dentro do ritual é também um médium intuitivo que tem como função comandar
todo o “setor” da curimba. Por isso faz-se necessário que seja escolhido uma pessoa séria,
estudada, conhecedora dos fundamentos da religião.
Além disso, o ideal é que o “neófito” que busca ser um novo ogã procure uma escola de
curimba, onde aprenderá os fundamentos, os toques de nação e “como”, “o quê” e “quando”
cantar.
Mulheres também podem ser atabaqueiras e curimbeiras, SIM! O "cargo" de ogã vem
do candomblé e apenas é dado a pessoas do sexo masculino. A mulher no Candomblé não toca
atabaque, por alguns dogmas da religião, principalmente em relação à menstruação.
Na
Umbanda não importamos dogmas e conceitos do candomblé, mas sim seguimos os nossos,
passados diretamente pelos nossos guias e mentores. Nunca vimos um caboclo ou preto velho proibindo mulher de tocar atabaque, por isso afirmamos, na Umbanda mulher toca
e canta sim, e, diga–se de passagem, muitas vezes melhor do que os próprios homens.
Por fim, queremos fazer alguns comentários a cerca da espiritualidade que guia os
trabalhos da curimba.
Muitas linhas de Umbanda existem no astral e trabalham ativamente
nele, apesar de não incorporarem. Existem muitas linhas de caboclos, exus, pomba – giras,
etc, que por motivos próprios trabalham nos “bastidores”, sem incorporarem ou tomarem a
“linha de frente” dos trabalhos espirituais.
Também existe uma corrente de espíritos que
auxiliam nos toques e cantos da curimba. São mestres na música de Umbanda, verdadeiros
guardiões dos mistérios do “som”.
Normalmente apresentam–se com a aparência de
homens e mulheres negras, com forte complexão física para os homens, e bela mas
igualmente forte para as mulheres. Seus trajes variam muito, indo desde a roupagem mais
simples como um “escravo” da época colonial, como até mesmo o terno e o vestido branco.
São espíritos bondosos, muito alegres e divertidos, que com o cantar encantam a muitos
no astral. Alguns fazem – se presente auxiliando o toque, outros o canto e outros ainda
auxiliam a manutenção da energia e sua dissipação dentro do terreiro.
Muitas vezes chega a
acontecer uma espécie de “incorporação” desses guias com os ogãs, os inspirando a
determinados toques e cantos. Qualquer pessoa com experiência em curimba pode relatar
casos onde um ponto vem na hora que ele é necessário e depois você simplesmente o
esquece.
Isso acontece sobre inspiração desses mentores.
Algumas vezes também, em festas de Umbanda e dos Orixás, onde muitos se reúnem,
percebemos que diversos espíritos chegam portando seus “tambores astrais”, percutindo – os
a partir do astral, ajudando na sustentação e na energia das festividades, potencializando
ainda mais os toques dos atabaques e as energias movimentadas.
Isso é muito comum, por
exemplo, nas festividades de Iemanjá, no fim do ano.
Quando os guias, incorporados fazem sua saudação à frente dos atabaques, estão
saudando as pessoas que tocam, estão pedindo para que as forças movimentadas pela
curimba sejam benéficas a todos, mas estão também, saudando e agradecendo a toda essa
corrente de trabalhadores “anônimos” do astral.
Estão percebendo como muita coisa foge aos
nossos sentidos em uma “simples” e humilde gira de Umbanda?
Sabemos que esse universo da curimba muitas vezes é pouco explicado, e muitos chegam
a defender a abolição dos atabaques dos centros de Umbanda.
A isso, os próprios guias e
mentores de Umbanda respondem, tanto incentivando os toques e trazendo mentores nesse
“campo” , como também, abrindo turmas de estudo de Umbanda e desenvolvimento
mediúnico, onde percebemos claramente que o "animismo" acontece por despreparo do
médium, falta de estudo ou orientação e não pelo uso de atabaques.
Colocar a culpa nos
atabaques é como “tampar o sol com a peneira”. Afinal, como explicado parágrafos acima,
o atabaque quando bem utilizado é ótima ferramenta para o desenvolvimento mediúnico.
Muitos desses toques a respeito da curimba, que aqui estão escritos, foram me passados
por um espírito amigo, que me auxilia nos trabalhos de curimba e que apresenta – se com o
nome simbólico de “Zé do Couro”.
Esperamos que esse texto possa ter trazido certas explicações acerca da curimba, desmistificando e explicando alguns aspectos dela.
Axé a todos!
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